Com endividamento em alta, cartão de crédito segura consumo dos brasileiros

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Modalidade responde por quase a totalidade das pessoas com dívidas hoje no país

Quase oito em cada dez famílias (77%) brasileiras têm dívidas hoje no Brasil, sendo que 17% delas se dizem muito endividadas, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC). De acordo com a instituição, é o maior patamar da história desde que a medição começou a ser feita, a partir de janeiro de 2010.

O cartão de crédito é o principal fator de endividamento: 87% dos brasileiros relatam estar com a fatura em mãos para pagar, seguido pelos carnês (19%) e financiamentos de carros (11%). Segundo análise da CNC, esse contexto se explica pela inflação alta, que faz com que o crédito se torne um meio de recompor renda ao longo do mês para seguir consumindo. O mesmo acontece com redes de varejo.

Com isso, os juros médios cobrados no cartão atingiram 67%, o que representa a segunda maior taxa entre todos os tipos de dívida.

Nas Casas Bahia dívidas atrasadas são uma constante desde o início da pandemia“, relata a babá Matilde Soares, de São Paulo. Ela conta que, desde o início da covid-19 no Brasil, em fevereiro de 2020, não conseguiu mais se livrar das dívidas do cartão e dos carnês bancários.

Especialistas têm dito que os recordes nas taxas de endividamento podem ser sinais de que o orçamento está acabando antes do fim do mês – ou até na metade dele. Para seguir consumindo, as famílias apostam no cartão de crédito, que é um meio rápido de acessar dinheiro, embora não seja o mais barato, por causa dos juros. Mas há percepção de alguns deles é que isso representa, justamente, o aquecimento da economia. Outros, ao contrário, observam nessa lógica um sinal de que as coisas vão mal.

A pesquisa ainda mostra que 27% das famílias brasileiras estão inadimplentes hoje, o que significa que estão com dívidas em atraso. É o maior nível da série histórica iniciada há mais de uma década. Pior do que isso são as 10% de casas que relatam não ter condições de arcar com os boletos atrasados no momento.

A alta da inflação tem deteriorado os orçamentos domésticos, culminando no acirramento dos indicadores de inadimplência desde o início do ano. Mesmo com os juros médios de mercado quase 7 pontos percentuais maiores do que há um ano, o endividamento encerrou o primeiro trimestre na maior proporção história e apontando tendência de alta“, diz a CNC no relatório da pesquisa.

Chama atenção, de fato, que a maior parte das pessoas entrevistadas tenham relatado estarem com dívidas há pelo menos um ano (34%) – e que, mais do que isso, metade delas esteja com uma parcela entre 10% e 50% da renda comprometida para arcar com essas despesas. É o caso de Matilde. “Quando eu recebo meu salário, praticamente metade dele vai para as dívidas que eu já tenho no início do mês, como o boleto do carro e o cartão de crédito“, finaliza.