Ética na era dos dados: um novo tipo de compliance ?

Por Leonardo Dias *

O uso de dados para o aumento da assertividade e do desenvolvimento de produtos cada vez mais precisos não é novidade, porém, a forma que grandes companhias encaram essas informações, sim. Ao mesmo tempo que se mostram mais preocupadas com a qualidade, a segurança e a governança, existe também a busca incessante de formas de extrair valor desses dados.

Muito desse investimento repousa sobre a suposta quebra de privacidade dos usuários, como no caso da geolocalização, que é passível de monetização, gerando receita, mas sem que exista a necessidade da exposição do indivíduo. É possível, por exemplo, contabilizar quantas pessoas passaram por determinado local sem precisar identificá-las. Ou seja, existem limites e isso não significa que as iniciativas serão menos rentáveis. É possível dar lucro sem abrir mão da ética e da privacidade dos clientes.

Para garantir a integridade das informações, as companhias atuam com diversas medidas, que vão desde a criação de modelos criptográficos de armazenamento até o completo sigilo para que não haja uma identificação do usuário. Há, sem dúvidas, maneiras de tornar esses dados anônimos, e muitas empresas buscam a adoção dessas práticas. Tudo vai depender de uma boa criptografia, já que a capacidade de processamento vem aumentando ao ponto de transformar antigas técnicas e soluções em tecnologias obsoletas.

O uso e a exploração dos dados devem ser analisados internamente para garantir a ética, que permite sua exploração até o ponto da privacidade. Além disso, também é possível aproveitar as informações para a implantação de serviços, entregando aos consumidores medidas capazes de transformar as operações em mais seguras e inteligentes por meio da análise de grandes volumes de dados, explorando mais padrões e não comportamentos individuais.

No Brasil, com o Marco Civil da Internet, que criou uma dificuldade maior e uma necessidade de manutenção dos dados, as empresas ainda estão em um processo de adaptação. Muitas delas ainda não possuem a devida governança, dificultando a localização e avaliação de variáveis específicas e limitando a qualidade das informações por trás de determinadas métricas, fazendo com que algumas práticas de análise não sejam mais adequadas.

No restante do mundo já existe uma maior utilização de sistemas de governança e uma constante busca para que os dados sejam atualizados e precisos. O conceito de análise de informações em tempo real (Real Time Analytics) cresce, se apresentando como tendência global para o futuro. A biometria e o reconhecimento facial serão métricas mais qualificadas e que poderão, por vezes, deixar de lado a questão da privacidade em troca da geração de valor.

Daqui para frente, os aspectos que não forem sanados por meio da legislação, deverão ser resolvidos por meio da ética dos indivíduos responsáveis por lidar com os dados. Apesar de o futuro ser incerto, para cada grande inovação, será preciso repensar, de maneira ética, quais serão suas aplicações e como essas informações poderão ser protegidas. Essa será, sem dúvida, uma necessidade crescente para o compliance na era dos dados.